Mabelle e o vestido de renda branca

Primeira Parte: A Queda

III - O Vestido de Renda Branca

Entre tantos caminhos e trilhas, Mabelle se perdeu.

Procurava por não sei o que, não sei onde.

Distraiu-se.

Eram tantos estímulos que não se segurou e correu. Os braços abertos, libertadores, as mãos tocando a relva dourada, fazendo cócegas em sua pele. O vestido de renda branca esvoaçando-se ao seu redor. 

Mabelle correu. Correu até cansar. Sob a sombra do grande carvalho na campina, deitou-se. O sol se infiltrava por entre os galhos, fazendo um jogo de sombras e luzes que desafiavam sua imaginação. Borboletas multicores dançavam pelo ar; o perfume das flores embalando seu descanso; os pássaros cantando a mais bela e pura melodia. Mabelle encantou-se.

Nunca se vira na vida mais bela e espirituosa criança. Mabelle dos olhos cor do céu e risada de mil sinos a tilintar. Energia em forma pura e ingênua. Doce criança. Perdida em devaneios e sonhos. O irreal é a sua verdade - e ai de quem contrariar!

Ah, pequena e graciosa Mabelle… Assistiu ao sol se deitar. Mais cores! Mais luz! E então – que deslumbre! – estrelas pontilhando a escuridão! Como contas de pérolas tiradas do mar. Seus olhos, diante a tanto descobrimento e encantamento, pesaram-lhe o olhar. A luz da lua serviu-lhe de luminária, e vaga-lumes puseram-se a piscar.

Com a lembrança do sol esquentando seu coração, Mabelle dormiu. Dormiu e sonhou...

... com uma menina de vestido de renda branca que corria atrás de borboletas.