Mabelle e o Universo

Primeira Parte: A Queda

IV - O Universo

Estendida na grama macia, que de dia era de um tom forte de verde e à noite tornava-se cinza, Mabelle observava as estrelas. Braços abertos, pernas separadas e inspirando lentamente o ar fresco da noite, seus olhos claros encaravam o céu escuro pontilhado por pequenos e distantes cristais.

No silêncio da noite avançada, Mabelle fechou os olhos e inspirou fundo e deixou-se relaxar, abriu seus sentidos para o mundo a sua volta e se conectou à natureza que tanto amava.

Podia sentir o ar se renovando; a água circulando; os pequenos animais se movendo e arejando a terra. Se se concentrasse um pouco mais, poderia sentir o movimento de rotação da Terra e a gravidade prendendo-a ao chão; poderia senti-la girar ao redor do sol, e nosso sistema movendo-se pela galáxia e nossa galáxia flutuando à esmo na imensidão negra e desconhecida do universo; como uma grande coreografia de milhares de milhões de anos.

A sensação de conectar-se com universo é estranho e faz cócegas. Como se estivesse à beira de um altíssimo precipício, olhando para baixo tentando decifrar o que há em seu fim. Seu estômago encolhe e parece subir para juntar-se ao diafragma e ela sente um frio gostoso na barriga. Há um medo enorme de cair, entretanto, há também a curiosidade de pular. De abrir os braços, abraçar o vento e descobrir o que há escondida naquela escuridão.

Mabelle ia e vinha à beira do precipício, beijar a imensidão. Sentia-se livre e presa, bem e mal. Era parte de algo intenso e maravilhoso, mas era uma poeirinha em meio àquilo tudo. Às vezes, Mabelle escorregava e caia em queda livre pelo buraco desconhecido e tudo o que precisava era abrir os olhos. O Universo vivia dentro dela.

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NdA: Mabelle e o Universo é uma experiência extremamente pessoal minha. Resolvi transforma-la em um dos capítulos do conto pois achei que seria interessante. Não estou muito segura com esse texto, mas espero que vocês entendam e gostem.