Mabelle Transborda

Segunda Parte: Cinza
XVII - Transbordo

Minhas linhas são tortas. Meu fluxo de palavras desconexo. Perco-me entre pontos e vírgulas, ultrapasso a margem, esqueço-me dos parágrafos. Diserto poesias emaranhadas em tristes sorrisos, envoltas em agonia latente.
Esvazio minha mente cansada em frases que não fazem muito sentido. Eu não faço sentido.
Sou tantas coisas e o nada ao mesmo tempo. Transpareço força, mas sou fraca por dentro.

Sou reticências de um texto incompleto.

Não há para onde fugir dos meus pensamentos. Não há como tampar os ouvidos, silenciá-los. Continuam repetindo-se em minha mente, como um disco riscado. De novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e de novo 

e de novo

Palavras em brasa, como lâminas perfurando, lentamente, minha pele, minha alma e minha mente.
Minha mão segura a caneta com leveza. Não as sinto. Como se não fossem minhas. Meus olhos olham fixamente para o papel branco de linhas azuis até perderem o foco. Respiração suspensa, a espera de uma salvação. Alguma inspiração para transbordar os sentimentos acumulados no peito
Suspiro. Água embaçam-me os olhos, salgadas e frias. Elas escorrem pelo rosto, uma correnteza particular sem fim.
Transbordo.
Tristeza. Dor. Agonia. Solidão. Todos os sentimentos que me exaurem, que me sufocam, esvaindo-se em lágrimas, aliviando a dor que se instalara em mim há mais tempo que possa contar.


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