II - Remetente Mabelle
Querida Solidão*,
Ao tentar encontrar-me, perdi-me. Não sei quem sou ou quem fui. Sei que meu peito arde e meu coração chora por mim. Estou em um abismo, na fronteira do final; posso morrer ou viver. Como pôde dizer-te amiga e mudar dos meus sonhos o final?
As pessoas são o que não vemos, atrás de máscaras de mentiras se escondem com as verdades. Em mim, não há mais disfarces, já não tenho alma a vestir, nada em mim restou. A vida passa em minha frente, estou só. Mas hei de seguir.
Solidão, você permaneceu ao meu lado. Companheira, a esperar a felicidade. Companheira, envolvendo-me em lágrimas. Companheira, sugando-me as vontades. Como pôde brincar comigo? Como pôde mudar dos meus sonhos o final? Nada de mim restou, dos meus sonhos, nenhum perdurou.
Todo amor é uma dor; chegam sem pedir, vão sem se despedir. A sorte traiu-me, como uma amante infiel. Apenas há dor em meu coração, uma voz a me sussurrar aos ouvidos mentiras de amor.
Sou um reflexo de mim, meu nome uma lembrança, minha voz um eco no silêncio vazio. Sonhando acordada, uma criança assustada. Uma alma quebrada.
Grito, choro e morro, lento, no agoniante silêncio. Esqueci-me de mim. Estou cansada de confundir a realidade, de sonhar sem realizar. Em cada encontrou há uma ilusão, em cada história há um final. Sou apenas uma fraca a luz a apagar na imensidade.
Como pôde deixar isto acontecer? Como pode estar tão perto e tão longe? Como pôde mudar de meus sonhos o final? Posso não saber quem sou. Posso estar morrendo. Frágil chama de uma vela a mercê do vento.
No que me tornei por você?
Mabelle
*carta com forte inspiração nas músicas da Belinda
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