mabelle e o campo de centeio
Primeira Parte: A Queda
VII - O Campo de Centeio
Os louros cabelos refletiam o sol em um prisma de cores belíssimo. Dourado nos raios. Dourado nas mechas esvoaçando-se. Dourado nos centeios do campo. O azul límpido e puro do céu era espelhado nos olhos brilhantes de mesma cor. A pele bronzeada pelo sol fulgia-se, úmida pelo suor. Seus pés descalços moviam-se rapidamente, a adrenalina disparada pelo coração a impedia de sentir as ocasionais pedras ferir sua tez.
Mabelle possuía no rosto ruborizado o maior dos sorrisos. Os lábios róseos torciam-se graciosamente sobre os dentes, expondo perfeitamente a fileira branca e brilhante que iluminava seu semblante, dando um ar angelical à menina. Sua risada, de sinos tintilando ao bater a brisa fresca de verão, ressoava junto às abelhas em busca de mel. Uma música de fundo na natureza, cheia de alegria e inocência.
As cores de primavera faziam-se vistas. Nas vestes da jovem, nas flores do bosque após o campo, nas borboletas que a seguiam por todo o canto. Cores nas asas dos pássaros diversos e em suas graciosas melodias, que se misturavam às risadas de menina, no dia quente que parecia primavera, embora fosse verão.
Sua respiração estava ofegante. Corria e corria sem olhar para trás. Mas o silencio que a seguia a preocupou. Só então que parou.
Ouvia-se a natureza. A água do riacho em algum lugar à frente. O zumbido das abelhas. As árvores estalando. Só não se ouvia o som da brincadeira. Das risadas, das corridas. Mabelle virou-se para trás e descobriu-se sozinha em meio ao dourado do campo.
Sozinha.
O sorriso que mantinha no rosto esmaeceu. Ela gritou por alguém e ninguém respondeu. Arriscou uns passos para frente, em direção de onde viera, mas não vinha ninguém. Não havia alguém. Estava sozinha. A respiração, outrora ofegante de alegria, agora indicava medo e seu coração retumbava em seu peito em agonia.
Mabelle respirou fundo. Não queria e não iria se desesperar. Havia corrido rápido de mais, era isso. Fizera todo mundo se cansar. O sorriso tremulou nos lábios. Hesitante, voltou a caminhar. Foi até o limite do bosque e sentou-se em uma grande pedra.
Abraçou as pernas... e esperou.
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